terça-feira, 10 de abril de 2018

Uma vida protelada


Foram muitos dias sem nem ao menos conseguir escrever uma frase. Foram dias sem inspiração alguma. Não digo que 2017 foi um ano ruim, longe disso, mas com toda certeza foi um ano de acontecimentos. Uns positivos, outros nem tanto.


Ano passado, perdi a luz da minha vida, meu amigo e companheiro cãozinho Duck. Depois disso, perdi um pouco também a vontade de publicar histórias. Passados alguns meses e, talvez, um pouco mais adaptada a essa nova situação, achei necessário compartilhar novamente meus pensamentos. A perda do Duck me fez refletir sobre a fragilidade da vida e a importância de se valorizar cada instante ao lado das pessoas que amamos. 

Quantas vezes ouvimos, ou nós mesmos proferimos, as seguintes frases: "amanhã  eu resolvo"; "faço isso depois"; "mês que vem eu vou visitar ele"; "semana que vem sem falta eu envio uma mensagem". 

Somos acostumados a adiar planos. Afinal de contas, amanhã está tão pertinho. Por vezes, esse "empurrar com a barriga" dura anos. O que a gente não percebe e, eu me incluo nesse grupo, é o quão incerto é a vida. Jamais saberemos quando vamos ver alguém pela última vez. 

Traçar metas para o futuro é necessário e, até saudável, eu diria. Porém, o problema recai quando esse '"protelar" vira rotina. Mesmo sendo um cachorro, o Duck me ensinou a valorizar todos instantes. Desde o momento em que descobri que ele estava doente, decidi, que, a cada amanhecer, tiraríamos uma foto juntos e, faríamos daquele momento algo especial. Queria sempre lembrar da alegria dele, mesmo diante de toda as adversidades.

Toda noite antes de dormir eu dizia para o Duck o quanto ele era importante para mim e o quanto ele tinha mudado a nossa vida. Era o nosso ritual sagrado. Eu dava um beijo nele e ele me olhava de um jeito reconfortante. Foi assim, ao longo de pouco mais de dois meses. Percebi, no decorrer do tempo, que o olhar dele ficava cada dia mais distante e solitário. Ele evitava a minha companhia. Era uma uma despedida lenta e gradual.

No dia 18 de setembro, uma segunda-feira ensolarada, acordei, olhei pela janela e vi o Duck caminhando no pátio. Desci, fiz um carinho nele e, por alguma razão que desconheço, fiquei apenas observando. Algo me dizia que o fim do Duck estava próximo. Depois de esperar eu, minha mãe e meu pai chegarem e acariciarem seu corpinho, o Duck se foi. Ele aguardou a família estar completa para encerrar sua missão nesse mundo. Fiquei do lado dele até os últimos suspiros.

A partir daquele momento, demorei um pouco para entender a mensagem que ele queria me passar. Mesmo diante da dor, o Duck nunca deixou de sorrir, lutou contra o avanço da doença. Ele amava viver, mas acima de tudo, amava estar em família. Compartilho essa história não para entristecer ninguém, mas para mostrar o quão importante é viver intensamente cada instante, seja ele ao lado de uma pessoa, seja ele ao lado de um animal de estimação, seja ele na sua própria companhia.

Sempre imaginamos que a vida é longa e infinita. Na verdade, acreditamos que sempre haverá tempo suficiente para finalizarmos nossos objetivos. O grande problema, amigos, é que a vida é um sopro. A vida é incerta e imprevisível. Somos grandes apostadores desse jogo, pois na verdade nada sabemos sobre o futuro.

Por isso, não espere uma doença ou a própria perda de alguém para valorizar momentos ou colocar em prática velhas metas. Arrisque-se. Mande aquela mensagem agora, visite alguém hoje, faça nesse instante o prometido. Torne cada dia, um dia especial. Renova-se a cada despertar com a consciência tranquila de que você fez o seu melhor. 




Eu e o Duck vivemos uma amizade linda durante 15 anos. Gostaria de ter aproveitado e feito ainda mais por ele. Infelizmente, o tempo do Du aqui na terra se encerrou. Ele se foi, mas me deixou repleta de ensinamentos. Com toda certeza, a passagem do Duck pela minha vida não foi em vão. Ele nos uniu e mostrou a importância de lutar, persistir e nunca perder a alegria.

Após a partida do meu amigo fiel, plantei em sua homenagem um ipê amarelo que floreia justamente no mês de setembro, mês de aniversário e falecimento dele. Assim, de alguma forma, eu e o Duck vamos sempre estar conectados. 



Talvez a sua história não tenha como personagem principal um cachorro, mas de alguma maneira essa leitura possa lhe ajudar a melhorar a forma como você está conduzindo sua vida. Quero que essas palavras sejam inspirações ou alertas para que mais pessoas, assim como eu, possam desligarem o botão automático e tomarem as rédeas do seu destino.


Boa sorte nesse jogo!




Um comentário:

  1. Nossa Ju, que texto!! So quem tem bichinhos entende esse sentimento que temos por eles...

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