quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Uma vida sem poréns

Era um dia como outro qualquer, sem mudanças ou alterações. As pessoas e os lugares mantinham-se exatamente iguais. Os dias transcorriam rápido, sem deixar marcas. A vida era monótona, para não dizer chata. Preferia ficar na zona de conforto ao se arriscar no desconhecido. Sempre fora uma pessoa com opiniões fortes e seguras, ser diferente estava completamente fora de cogitação. Até mesmo, o seu futuro já havia planejado. Assim que terminasse o ensino médio, prestaria vestibular para medicina. Na sua vida, não existia espaço para dúvidas ou poréns. Era assim e ponto final. 
E realmente foi desse jeito por 17 anos. Prestes a completar a maioridade, a vida a presenteou com o seu primeiro porém. Ao planejar a festa de aniversário, por insistência de seus pais, Elisa percebeu que não tinha ninguém, além da família, para convidar. Em todos esses anos, acostumou-se com a rotina. Fazia as mesmas tarefas de um modo repetitivo e sem atenção, como uma máquina programada para executar uma determinada função.
Ao viver mecanicamente, não se destacou ou fez falta para alguém. Preferia dizer não a todos as oportunidades por medo ou insegurança do novo. Estava tão focada em seus próprios objetivos que se esqueceu de abrir a janela para o mundo. Sempre rodeada de pessoas, mas no fundo uma jovem solitária. Até aquele momento isso nunca fora motivo de preocupação ou incômodo. No entanto, agora, esse questionamento passou a assombrá-la.
A partir daquele instante Elisa refletiu em como poderia ter sido a vida se ela estivesse mais disposta e com uma visão menos negativa com relação aos outros. Talvez ela pudesse ter mantido velhas opiniões e um estilo mais introvertido, sem alterar a sua personalidade. Viajar com os amigos, ter histórias para contar, rir das piadas ditas, aceitar os convites feitos, PORÉM sem perder suas fortes convicções. Será que isso era possível? Será que sua história precisava de mais vírgulas ao invés de pontos finais? Será que todos esses anos ela esteve fechada vivendo uma vida linear, sem curvas ou inclinações?
Talvez mudar fosse preciso ou talvez fosse tarde demais para isso. PORÉM, sentia pela primeira vez que deveria tentar aproveitar sua estadia nesse mundo. Reclamar menos de problemas tão simples e insignificantes e dar valor aquilo que realmente importa. Olhar a vida sob outra perspectiva. Muitas vezes a raiva e o ódio eram simplesmente reflexos do desejo e admiração.
Não podia mais deixar o tempo transcorrer sem nenhuma objeção. Cada novo dia era uma oportunidade que começava. Era a chance de fazer algo especial. Especial não no sentido de uma invenção científica ou coisa do gênero, mas especial no sentido de fazer valer a pena. Seus planos? Eles permaneceriam exatamente iguais, nada seria desfeito caso ela acrescenta-se mais poréns em seu cotidiano.
Ao traçar as novas perspectivas de futuro, algo a interrompeu bruscamente. Abriu os olhos e viu ao fundo sua mãe abrindo as cortinas do quarto e a chamando para tomar café. Tudo exatamente como de costume. Aquelas ideias revolucionárias e a coragem que tinha consumido sua mente foram apenas produtos da imaginação? Com um desânimo intenso, levantou-se da cama para seguir com o seu cronograma diário. Ao conduzir-se para cozinha, conformou-se com o mesmo. 
O dia do seu aniversário chegou. Nada havia mudado, nenhuma atitude havia sido tomada. PORÉM, ao apagar as velhinhas do bolo, sob os olhares atentos dos familiares, e somente deles, Elisa desejou uma vida menos linear, fora da zona de conforto. Sonho ou não era preciso sair de dentro da caixa e explorar uma nova vida que estava a recém começando. Trocar o não pelo sim, o cansado pelo disposto, o invisível pelo notável. Depois daquele sonho, algo se transformou em Elisa. Desejava experimentar. Para ela, não era feio mudar, feio era nunca ter se permitido fazer diferente. Feio era não fazer aquilo que tinha vontade. Quem sabe depois de tudo, ela percebesse que gostava da vida calma que levava. Para isso, PORÉM, seria necessário conhecer o outro lado e acrescentar mais linhas na sua história.



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